quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Biografia




1564 Galileu nasce no dia 15 de fevereiro em Pisa, Itália. Foi educado em um mosteiro.
1581 Estuda medicina na Universidade de Pisa. Ao mesmo tempo estuda Matemática e escreve um artigo sobre o centro de gravidade do sólidos geométricos.


1583 Na catedral de Pisa, observa as lâmpadas balançando penduradas do teto. Percebe que o tempo de um movimento completo de ida e volta é sempre o mesmo, não importando o tamanho do balanço.

1586 Inventa a balança hidrostática, um aparelho para medir a densidade relativa dos sólidos.

1589 Torna-se conferencista de Matemática na Universidade de Pisa aos 25 anos.

1587 Começa a trabalhar para outras cidades italianas, fazendo conferências em Florença e Siena.

1592 Vai para a Universidade de Pádua como professor de Matemática. Desenvolve uma bomba de água, um termoscópio (um termômetro) e uma máquina de calcular.

1609 Constrói um telescópio refratário simples que aumenta os raios de luz por meio de lentes para estudar as estrelas. Observa as manchas solares e os satélites de Júpiter. Publica as descobertas em um documento chamado "O Mensageiro Sideral". Volta a Pisa.

1616 O trabalho do astrônomo polonês Nicolau Copérnico (1473-1543) é banido pela igreja católica por causa da teoria de que os planetas circundam o sol (a igreja ensinava que a terra era o centro do universo e o sol se movia ao redor dela). Galileu foi proibido de continuar seu trabalho.

1623 Para conquistar apoio, Galileu dedica um trabalho chamado "O Pensador" ao novo papa Urbano VIII. O trabalho contradiz a descrição dos cometas feitas por Aristóteles (384 a.c.-322 a.c.).

1632 Publica "Diálogo Sobre os Dois Sistemas do Mundo", onde compara os trabalhos que Copérnico e Aristóteles. Publicando o trabalho na forma de diálogo entre dois cientistas, Galileu pretende deixar clara sua verdadeira opinião.
1633 A Igreja força-o a declarar publicamente seu desacordo com Copérnico. Permanece preso em casa. No fim da sua vida o físico Evangelista Torricelli (1608-47) e sua mulher são autorizados a viver com ele.

1638 Publica "Discurso Sobre Duas Novas Ciências", sobre o movimento e a gravidade no vácuo. A história sobre o lançamento de pedras da torre de Pisa é baseada nesse trabalho, mas na verdade ele lançou dois pesos por um plano inclinado. Concluiu que a velocidade da queda não tem relação com o peso. Devido ao forte controle da Igreja sobre a ciência na Itália, suas descobertas são publicadas no estrangeiro.

1642 Morre em Florença, Itália, aos 78 anos.




Galileu
Galileu Galilei
(Pisa, Itália, 15/02/1564 -  Ancetri, Itália, 08/01/16 1642)
           


             
Ele concebeu novas formas de pensar e pesquisar. Em seus dias, foi perseguido e humilhado por causa disso. Mas a história o reconheceu como o pai da ciência moderna.
Por ter afirmado que a  Terra se move em torno do Sol, Galileu Galilei, um dos gênios da grande revolução científica do século XVII, foi preso e, sob ameaça de tortura, obrigado a uma retratação humilhante. Seu julgamento pelos tribunais da Inquisição é um dos grandes marcos negativos da história do pensamento.
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Diante da Inquisição, Galileu representa a eterna luta entre a rebeldia e o conformismo intelectual, entre a liberdade de pensamento e a censura. E também a demonstração cabal de que urna verdade pode ser sufocada de modo brutal, mas não indefinidamente.
No entanto, a importância de Galileu vai muito além do seu histórico confronto com a Inquisição. Em torno de sua figura criaram-se lendas e equívocos. Muitos o admiram por coisas que não fez - por exemplo, não inventou o telescópio, nem o termômetro, nem o relógio de pêndulo. Mas é certo que, sem sua participação direta, essas invenções não teriam sido desenvolvidas em sua época. Também nunca atirou pesos do alto da torre de Pisa, para demonstrar que corpos de massas diferentes caem com a mesma velocidade. Chegou a essa conclusão realizando experiências com bolas de ferro que fazia rolar sobre um plano inclinado.
 

Sua maior contribuição à ciência, por sinal, não está numa descoberta particular, mas no fato de ter reabilitado em novas bases o método experimental, que andava esquecido desde os tempos de Arquimedes. Nesse sentido, pode ser considerado, sem exagero, o pai da Física moderna.
Galileu Galilei nasceu na cidade de Pisa em 1564, mesmo ano da morte do pintor e escultor Michelangelo Buonarrotti e do nascimento do dramaturgo inglês William Shakespeare. Exatos 31 anos antes, o matemático e astrônomo polonês Nicolau Copérnico publicara sua obra maior – “Das revoluções dos corpos celestes” -, defendendo a teoria de que a Terra se move em torno do Sol e não o contrário. Essa teoria seria defendida e desenvolvida por Galileu e seu contemporâneo Johannes Kepler, que primeiro descreveu a trajetória elíptica dos planetas. A síntese final desses trabalhos foi a Teoria da Gravitação Universal, formulada pelo físico e matemático inglês Isaac Newton. Que, por coincidência, nasceu em 1642, o mesmo ano em que Galileu morreu.
 

O NOVO MUNDO DE GALILEU
Filho de Vincenzo Galilei, músico, o futuro cientista começou seus estudos superiores na Escola de Medicina de Pisa, em 1581. Quatro anos depois, abandonou o curso por falta de dinheiro - embora houvesse quarenta bolsas disponíveis, ele não conseguiu nenhuma. Mas sua verdadeira vocação não estava na Medicina, e sim na Física.
Aos 17 anos, assistindo a uma cerimônia na catedral de Pisa, observou um lustre que oscilava no teto. Controlando o tempo pelos seus próprios batimentos cardíacos, verificou que o intervalo entre cada oscilação era sempre o mesmo, não importando a amplitude do movimento.
Repetiu a experiência mais tarde, e sugeriu que essa característica do pêndulo poderia tornar os relógios mais precisos. A idéia foi logo aproveitada por outros inventores e, apenas três décadas após a morte de Galileu, o erro médio dos melhores relógios havia caído de 15 minutos por dia para apenas 10 segundos. Ao abandonar a Faculdade de Medicina, foi lecionar em Florença. Durante os quatro anos em que trabalhou ali, publicou um trabalho em que descrevia a balança hidrostática - essa, sim, uma invenção sua, - utilizada para medir o peso específico dos sólidos ou a densidade dos líquidos. Graças a esse trabalho, tornou-se, aos 25 anos, professor de Matemática - e foi lecionar na Universidade de Pisa, que quatro anos antes lhe recusara uma bolsa como estudante.
 

Mas foi em Pádua, onde viveu dezoito anos - de 1592 a 1610 -, lecionando Matemática, que desenvolveu a parte mais consistente de suas pesquisas, sobretudo as relativas à resistência dos materiais, que lhe foram sugeridas pela observação dos trabalhos nos estaleiros navais do Arsenal de Veneza, que visitou várias vezes. O problema era descobrir por que estruturas geometricamente semelhantes, de máquinas ou edifícios, tendo desempenho satisfatório quando construídas em determinada escala, fracassam ao serem construídas em escala maior. Galileu encontrou a explicação e estabeleceu sistemas de cálculo que permitiram obter o dimensionamento seguro das estruturas.
Já então estava, também, convencido do acerto das teorias de Copérnico sobre a movimentação dos astros, mas em suas aulas continuava a ensinar que a Terra era o centro do Universo e em torno dela giravam planetas e estrelas. Não tinha medo da Inquisição, ainda, pois nessa época a própria Igreja não dava importância ao assunto. Conforme confessou numa carta escrita a Kepler, datada de 1597, temia o ridículo. E tinha razão. A imobilidade da Terra não era apenas uma teoria defendida pela tradição da escola de Aristóteles, mas sobretudo parecia perfeitamente de acordo com o senso comum.
Qualquer pessoa pode observar, diariamente, que o Sol, a Lua e as estrelas se movimentam; no entanto, nada havia, na época, que pudesse mostrar o movimento da Terra, sugerido teoricamente apenas em complicados cálculos matemáticos. Assim, era fácil imaginar: se a Terra estivesse em movimento, as pessoas sobre ela perderiam o equilíbrio e as nuvens e a Lua ficariam irremediavelmente para trás.
 

O debate teria permanecido nesse nível, se não ocorresse a invenção do telescópio, não se sabe ao certo por quem nem onde. Os primeiros telescópios surgiram na Holanda, por volta de 1600 e logo se espalharam por toda a Europa. Galileu construiu seu próprio telescópio sem nunca ter visto um. Bastou-lhe a descrição do instrumento que aparecera em Veneza. O primeiro aumentava nove vezes; o segundo, trinta vezes, e era superior a qualquer outro já fabricado.
O grande mérito de Galileu foi apontar seu telescópio para o céu. Descobriu, assim, tantas coisas novas que em poucos meses escreveu e publicou o Sidereus Nuncius (O mensageiro das estrelas), um opúsculo de apenas 24 páginas extraordinariamente rico em revelações. A Lua, relatou ele, não tem ume superfície lisa, mas está cheia de irregularidades, como a Terra. Voltando-se para as estrelas, que então se supunha fixas, surpreendeu-se ao descobrir miríades de outras jamais vistas, "que em número superam mais de dez vezes as anteriormente conhecidas". Percebeu que a Via Láctea não era constituída, corno pretendia Aristóteles, por "exalações celestiais", mas era um aglomerado de estrelas. E descobriu quatro planetas - hoje dizemos satélites - girando em torno de Júpiter.
Não havia, ainda, nenhuma prova conclusiva do acerto do sistema heliocêntrico proposto por Copérnico.
 

Mas já ficava difícil admitir que a Terra era o centro do Universo, se havia corpos girando em torno de Júpiter. E como continuar acreditando no dogma de que as estrelas haviam sido criadas apenas para deleite dos homens, se a maior parte delas era invisível a olho nu? As resistências ao uso do telescópio, sobretudo na Astronomia, foram tão grandes que o próprio Galileu considerou necessário conferir com rigor a exatidão dos seus instrumentos.
Focalizava a distância os mais variados objetos e em seguida ia observá-los de perto, para ver se a olho nu se confirmavam as imagens observadas de longe pelo instrumento. Ainda assim, as duas primeiras demonstrações públicas não foram um sucesso. Em 24 de abril de 1610, em Bolonha, pretendeu mostrar os satélites de Júpiter a um grupo de convidados ilustres. Ninguém saiu convencido de nada. Não que fossem todos mal-intencionados, apenas, embora o telescópio de Galileu fosse o melhor já construído, era ainda muito precário. Seu campo visual era tão pequeno que o milagre não seria conseguir enxergar os satélites, mas localizar no céu o próprio planeta Júpiter.
Logo, no entanto, Galileu recebeu o apoio entusiasmado de Kepler, então no auge do prestígio como matemático imperial na corte de Praga. Em seguida, converteram-se algumas das mais destacadas figuras da ordem dos jesuítas, que chegaram a homenageá-lo em Roma, onde o próprio papa Paulo V o recebeu numa audiência amistosa. Para coroar tudo, foi convidado a morar em Florença, como "primeiro matemático e filósofo dos Medicis". Tudo isso aconteceu em 1610, quando ele tinha 46 anos. Como se explica que 23 anos mais tarde estivesse em desgraça, submetido aos juízes da Inquisição?
 

Dois motivos diversos contribuíram para isso. Primeiro, a mudança política da Igreja Católica, causada pela pregação protestante que, tomando ao pé da letra as palavras da Bíblia, multiplicava seus adeptos por toda a Europa. Roma decidiu fortalecer sua própria ortodoxia e começou a vigiar teorias suspeitas, como as defendidas por Galileu. Mas seu pior inimigo foi seu próprio temperamento. Ou melhor, uma das facetas de seu temperamento contraditório. Conforme a hora e as circunstâncias, Galileu sabia mostrar-se alegre e comunicativo, amigo das boas coisas da vida. Foi descrito como uma pessoa capaz de apreciar uma discussão literária, uma refeição preparada com requinte ou uma bela companhia feminina. Mesmo sua correspondência de caráter cientifico com o discípulo Benedetto Castelli contém comentários bem-humorados sobre os queijos e as pipas de vinho que eles se enviavam mutuamente.
Nunca se casou, mas não lhe faltaram aventuras amorosas: teve quatro filhos e filhas, uma das quais tornou-se freira carmelita e viveu em sua companhia até a morte. Mas a personalidade de Galileu tinha um lado sombrio: quando entrava em polêmicas científicas, era sarcástico, brutal, de um orgulho desmedido. Gastou muita energia atacando supostos rivais.
Em 1616, finalmente, deu-se seu primeiro confronto com a Igreja. Representava o Vaticano o cardeal Roberto Belarmino, autor do catecismo em sua forma moderna, e que seria beatificado em 1923 e santificado em 1930. Era, aos 73 anos, Geral dos jesuítas, consultor do Santo Ofício, Mestre de Questões Controversas na Colégio Romano e maior teólogo da cristandade. Pessoalmente, parecia inclinar-se pela teoria de Copérnica, mas estava em minoria entre os teólogos da Inquisição. Ainda assim, concedeu a Galileu autorização para continuar a estudá-la, como hipótese matemática, mas não para defendê-la publicamente.
 

Galileu afastou-se da polêmica durante sete anos. Voltou com força redobrada em 1623, quando seu grande amigo, o cardeal Maffeo Barberini, foi eleito papa com a nome de Urbano VIII. Já com a saúde abalada, foi recebido pelo pontífice em seis longas audiências. Foram-lhe conferidas honras e favores, e permissão para descrever abertamente as teses de Copérnico, desde que descrevesse simultaneamente e de forma imparcial as teorias tradicionais. Deveria concluir afirmando a impossibilidade de decidir qual era a mais correta, visto que Deus, sendo onipotente, poderia atingir os fins observados pelo homem da maneira que melhor entendesse.
Oito anos mais tarde, em 1632, Galileu publicou os Diálogos sobre os dois maiores sistemas do mundo Ptolomeu e Copérnico. À primeira vista, seguia a orientação papal, tanto que o livro recebeu o “imprimatur”. A obra reproduz uma conversa entre três personagens: Salviati, que defende as teses de Copérnico; Sagredo, um observador neutro; e Simplicius, defensor de Aristóteles e Ptolomeu. Mas Salviati é sempre brilhante, Sagredo logo abandona a imparcialidade e passa a apoiá-lo com entusiasma e Sìmplicius é pouco mais que um idiota, ridicularizado do princípio ao fim.
 

Publicada a obra, Urbano VIII percebeu que fora enganado e pôs a máquina da Inquisição em marcha. A acusação principal contra Galileu era desobediência às ordens recebidas do cardeal Belarmino para não defender as idéias de Copérnico. No primeiro interrogatório, abril de 1633, o réu alegou que tudo não passara de um mal-entendido: "Nem mantive nem defendi no meu livro a opinião de a Terra se mover e o Sol permanecer estacionário, demonstrando antes o aposto, e mostrando serem fracos e tão conclusivos os argumentos de Copérnico". Ninguém poderia acreditar nisso, pois no livro incriminado o fator chamava os adversários de Copérnico de "anões mentais", "idiotas" e "indignos do nome de seres Humanos".
Aconselhado por um cardeal amigo, o sábio mudou de tática no segundo interrogatório. Admitiu que um leitor desprevenido, diante de alguns trechos do livro, poderia imaginar tratar-se de uma defesa de Copérnico, mas garantia não ter sido essa sua intenção. E se propunha escrever uma continuação do diálogo, em que deixaria claro seu modo de pensar. No terceiro interrogatório, sob ameaça de tortura que afinal não se concretizou, os inquisidores tentaram fazê-lo confessar que acreditava mesmo no que dizia Copérnico o que, aliás, estava evidente no livro. Galileu não confessou e recebeu a sentença: os Diálogos foram proibidos, o autor obrigado a abjurar da opinião copernicana segundo uma fórmula que lhe passaram. De quebra, condenaram-no à prisão domiciliar, enquanto aprouvesse ao Santo Ofício. Não se pode dizer que, materialmente, tenha sido maltratado: Sua prisão era um apartamento de cinco aposentos, com janelas dando para os jardins do Vaticano, criado particular e mordomo para cuidar das refeições e do vinho. Seus últimos anos de vida, na companhia dos discípulos Torricelli e Vincenzo Viviani, foram dos mais produtivos.
 

Em 1636 terminou “Diálogos relativos a duas novas ciências”, obra na qual retoma, de forma ordenada, observações sobre dinâmica que fora acumulando durante toda a vida. Lança, igualmente, as bases do estudo racional da resistência dos materiais. A Igreja demorou alguns séculos, mas acabou reconhecendo o erro cometido. Em 1983, frente a uma platéia de mais de trinta ganhadores do Prêmio Nobel e centenas de cientistas do grupo Ciência para a Paz, reunidos para homenagear o 350.° aniversário do livro proibido, o papa João Paulo II admitiu: "A experiência da Igreja durante o caso Galileu e depois dele levou a uma atitude mais madura e a uma compreensão mais acurada de sua própria autoridade". 

Bibliografia


Os anos em Pádua

Capa do Sidereus Nuncius publicado em 1610.
Em 1592, ainda devido à influência de Guidobaldo del Monte, conseguiu a cátedra de matemática na Universidade de Pádua, onde passou os 18 anos seguintes, "os mais felizes da sua vida". Nesta universidade ensinou geometria, mecânica e astronomia. Em Pádua, descobriu as leis do movimento parabólico. Em Pádua conquistou reputação internacional e suas aulas eram frequentadas por até mil alunos.


O telescópio

Em 1609, em uma de suas frequentes viagens a Veneza com seu amigo Paulo Sarpi ouviu rumores sobre a "trompa holandesa", um telescópio que foi oferecido por alto preço ao doge de Veneza. Ao saber que o instrumento era composto de duas lentes em um tubo, Galileu logo construiu um capaz de aumentar três vezes o tamanho aparente de um objeto, depois outro de dez vezes e, por fim, um capaz de aumentar 30 vezes.
Galileu não inventou o telescópio, cujo pedido de patente foi feito em 1608, por Hans Lippershey, fabricante de óculos de Middleburg, nos Países Baixos, embora o termo "telescópio" tenha sido inventado na Itália em 1611.
Porém Galileu foi o primeiro a fazer uso científico do telescópio, ao fazer observações astronómicas com ele. Descobriu assim que a Via Láctea é composta de miríades de estrelas (e não era uma "emanação" como se pensava até essa época), descobriu ainda os satélites de Júpiter, as montanhas e crateras da Lua. Todas essas descobertas foram feitas em março de 1610 e comunicadas ao mundo no livro Sidereus Nuncius ("O Mensageiro das Estrelas") em março do mesmo ano em Veneza. A observação dos satélites de Júpiter, levaram-no a defender o sistema heliocêntrico de Copérnico.

Reconhecimento público e primeiros problemas com a Inquisição

O eco das descobertas astronômicas de Galileu foi imediato, devido à publicação do Sidereus Nuncius foi nomeado matemático e filósofo grã-ducal, sem obrigação de ensinar. Entretanto observa as manchas solares e os anéis de Saturno, que confunde com dois satélites devido à baixa resolução do seu telescópio. Observa ainda as fases de Vénus, que utiliza como uma prova mais do sistema heliocêntrico. Abandonou então Pádua e foi viver em Florença.

Em Florença

A casa florentina de Galileu
A publicação do Sidereus Nuncius suscitou reconhecimento mas também diversas polêmicas. Com a acusação de haver se apossado, com o telescópio, de uma descoberta que não lhe pertencia, foram postas em dúvida também a realidade de suas descobertas. O aristotélico Cremonini recusou-se a olhar pelo telescópio enquanto o matemático bolonhês Antonio Magini - que seria o inspirador do libelo antigalileiano Brevissima peregrinatio contra Nuncium Sidereum escrito por Martin Hotky - sem negar a utilidade do instrumento, sustentou a inexistência das descobertas e Galileu em pessoa, de início, buscou inutilmente dissuadi-lo.
Mais tarde, Magini mudou de ideia e com ele também o astrônomo vaticano Christoph Clavius, que inicialmente havia afirmado que as descobertas eram somente ilusões de ótica das lentes. Era, esta última, uma objeção na época não facilmente refutável, dado que as lentes podiam aumentar a visão mas também deformá-la. Um apoio muito importante foi dado a Galileu por Kepler, que verificou a existência efetiva dos satélites de Júpiter, publicando em Francoforte em 1611 "Narratio de observatis a se quattuor Jovis satellibus erronibus".

Cesare Cremonini
Em 1611 foi convocado à Roma para apresentar as suas descobertas ao Colégio Romano dos jesuítas, onde se encontrava o futuro Papa Urbano VIII, de quem ficou amigo, e o cardeal Roberto Bellarmino, que reconhece as suas descobertas. No mesmo ano acede à Accademia dei Lincei. Os matemáticos do Colégio Romano eram considerados as maiores autoridades daquele tempo e em 29 de março de 1611 Galileu apresentou suas descobertas em Roma: foi recebido com todas as honras pelo próprio papa Paulo V, pelos cardeais Francesco Maria Del Monte e Maffeo Barberini e pelo príncipe Federico Cesi, que o inscreveu na Accademia dei Lincei, por ele mesmo fundada havia oito anos. Em 1° de abril, Galileu escreveu ao secretário ducal Belisario Vinta que os jesuítas "tendo finalmente conhecido a verdade dos novos planetas, estão há dois meses em contínuas observações, as quais prosseguem; e as temos comparado com as minhas, e seus resultados correspondem".
Galileu não sabia porém que em 19 de abril o cardeal Roberto Bellarmino havia encarregado os matemáticos vaticanos de apontar-lhe uma relação sobre novas descobertas feitas por "um valente matemático por meio de um instrumento chamado canhão ou melhor óculos" e que a Congregação do Santo Ofício, no dia 16 de maio, havia decidido questionar sobre as relações existentes entre Galileu e o filósofo Cesare Cremonini, há tempos suspeito de heresia pela inquisição de Pádua. Evidentemente, na Igreja estavam bem presentes as consequências que "poderiam ter estes singulares desenvolvimentos da ciência sobre a concepção geral do mundo e assim, indiretamente, sobre os sacros princípios da teologia tradicional".
História e demonstração sobre as manchas solares e seus acidentes, publicado em 1613
Em 1612, Galileu escreveu o "Discurso sobre as coisas que estão sobre a água, ou que nela se movem" - no qual apoiando-se na teoria de Arquimedes demonstrava, contra a teoria de Aristóteles, que os corpos flutuavam ou afundavam na água segundo seu peso específico e não segundo sua forma - provocando a polêmica resposta do "Discurso apologético sobre o Discurso de Galileu Galilei" do literato e aristotélico florentino Ludovico delle Colombe. Em 2 de outubro, no Palácio Pitti, presente o grão-duque e a grã-duquesa Cristina, e o cardeal Maffeo Barberini, então seu grande admirador, deu uma pública demonstração experimental do assunto, negando definitivamente as ideias de Colombe.
No seu "Discurso" Galileu comentava também as manchas solares, que ele sustentava já haver observado em Pádua em 1610, sem porém relatá-las: escreveu então, no ano seguinte, a "'História e demonstração sobre as manchas solares e seus acidentes'", publicada em Roma pela Accademia dei Lincei, em resposta a três cartas do jesuíta Christoph Scheiner que, endereçadas no final de 1611 a Mark Welser, anunciavam a sua descoberta das manchas solares. A parte a questão da prioridade da descoberta, Scheiner sustentava erroneamente que as manchas consistiam de chamas de astros rodando em torno ao Sol, enquanto Galileu as considerava matéria fluida pertencente à superfície do próprio Sol e rodante em torno ao mesmo por causa da rotação da estrela.
Em março de 1614, completou os estudos sobre o método para determinar o peso do ar, calculando seu peso como mínimo, diferente porém de zero. O ar é de fato cerca de 760 vezes mais leve que a água, mas os estudiosos da época pensavam, sem nenhum apoio experimental, que o ar não tinha peso algum.
Entre 1613 e 1615, escreveu as famosas cartas copérnicas dirigidas a Benedetto Castelli, Pietro Dini e Cristina di Lorena. Nestas cartas, Galileu descreveu as suas ideias inovadoras, que geraram muito escândalo nos meios conservadores, e que circularam apesar de nunca terem sido publicadas, ficando assim uma divisão de apoiantes e de opositores nas duas principais universidades da Itália. As passagens mais polémicas são aquelas em que transcreve alguns passos da Bíblia que deviam ser interpretados à luz do sistema heliocêntrico, para o qual Galileu não tinha ainda provas científicas conclusivas. E este começou a ser o princípio de um problema futuro.
Em 1616, a Inquisição (Tribunal do Santo Ofício) pronunciou-se sobre a Teoria Heliocêntrica declarando que a afirmação de que o Sol é o centro imóvel do Universo era herética e que a de que a terra se move estava "teologicamente" errada, contudo nada fora pronunciado a nível científico. O livro de Copérnico De revolutionibus orbium coelestium, entre outros sobre o mesmo tema, foi incluído no Index librorum prohibitorum ("Índice dos livros proibidos"). Foi proibido falar do heliocentrismo como realidade física, mas era permitido referir-se a este como hipótese matemática (de acordo com esta ideia o livro de Copérnico foi retirado do Index passados quatro anos, com poucas alterações). Apesar de que nenhum dos livros de Galileu foi nesta altura incluído no Index, ele foi no entanto convocado a Roma para expor os seus novos argumentos. Teve assim a oportunidade de defender as suas ideias perante o Tribunal do Santo Ofício dirigido por Roberto Bellarmino, que decidiu não haver provas suficientes para concluir que a Terra se movia e que por isso admoestou Galileu a abandonar a defesa da teoria heliocêntrica excepto como ferramenta matemática conveniente para descrever o movimento dos corpos celestes. Tendo Galileu persistido em ir mais longe nas suas ideias, foi então proibido de divulgá-las ou ensiná-las.
Bússola militar de Galileu.
Apesar das admoestações, encorajado pela entrada em funções em 1623 do novo Papa Urbano VIII, seu amigo e um espírito mais progressivo e mais interessado nas ciências do que o seu predecessor (que afinal nada teve diretamente a ver com a sentença do tribunal), publicou nesse mesmo ano Il Saggiatore (O Analisador), dedicado ao novo papa, para combater a física aristotélica e estabelecer a matemática como fundamento das ciências exatas. Nele coloca em causa muitas ideias de Aristóteles sobre movimento, entre elas a de que os corpos pesados caem mais rápido que os leves. Galileu defendeu que objetos leves e pesados caem com a mesma velocidade na ausência de atrito, diz-se que subiu à torre de Pisa e daí lançou objetos com vários pesos, mas essa história nunca foi confirmada. Este livro era também a reposta a uma polémica que mantinha com o jesuíta Orazio Grassi que defendia o modelo cosmológico de Tycho Brahe segundo o qual a Terra estava fixa no centro do Universo, mas os planetas e outros astros giravam em torno do Sol, que por sua vez girava em torno da Terra. Orazio Grassi defendia também que os cometas eram corpos celestes, o que é correto, enquanto Galileu defendia erroneamente que eram produto da luz solar sobre o vapor atmosférico.

A condenação de Galileu pelo Santo Ofício

O papa Urbano VIII, que chegou a afirmar que "a Igreja não tinha condenado e não condenaria a doutrina de Copérnico como herética, mas apenas como temerária" e tinha sido testemunha de defesa no processo de 1616, recebeu Galileu no Vaticano em seis audiências em que lhe ofereceu honrarias, dinheiro (pensões de promoção académica e apoio científico) e recomendações. No entanto, o Papa não aceitou o pedido de Galileu de revogar o decreto de 1616 contra o heliocentrismo. Ao contrário, encorajou Galileu a continuar os seus estudos sobre o mesmo, mas sempre como uma hipótese matemática útil porque simplificava os cálculos das órbitas dos astros e significavam um avanço cientifico que ainda não estaria suficientemente maturo para a época.
Foi neste contexto que Galileu escreveu Dialogo di Galileo Galilei sopra i due Massimi Sistemi del Mondo Tolemaico e Copernicano, por vezes abreviado para Dialogo sopra i due massimi sistemi del mondo ("Diálogo sobre os dois principais sistemas do mundo") completado em 1630 e publicado em 1632, onde voltou a defender o sistema heliocêntrico e a utilizar como prova a sua teoria incorreta das marés. É um diálogo entre três personagens: Salviati (que defende o heliocentrismo), Simplício (que defende o geocentrismo e é um pouco tonto) e Sagredo (um personagem neutro, mas que termina por concordar com Salviati). Esta obra foi decisiva no processo da Inquisição contra Galileu. A isto se deve a história complexa que levou à sua publicação.
O Papa tinha sugerido a Galileu escrever um livro em que os dois pontos de vista, o helio- e o geocentrismo, fossem defendidos em igualdade de condições e em que as suas opiniões pessoais também fossem defendidas, e aceitou dar-lhe o Imprimatur caso este fosse o caso. Estariam assim abertas as possibilidades de levar o heliocentrismo adiante eliminando as rivalidades académicas e disputas universitárias, ao mesmo tempo em que seriam possivelmente preparadas abordagens teológicas mais claras. Em 1630, com a obra terminada, Galileu viajou a Roma para apresentá-la pessoalmente ao Papa. Este fez apenas uma leitura brevíssima e entrega-a aos censores do Vaticano para avaliar se estava de acordo com o decreto de 1616. Mas várias vicissitudes e em particular a ignorância dos censores em astronomia levaram a um grande atraso nesta avaliação, pois realmente o livro voltava a encalhar em aspectos dos defensores do geocentrismo e de uma facção da disputa académica. No fim foram realizadas apenas algumas experiências.
Capa de Discorsi e Dimostrazioni Matematiche Intorno a Due Nuove Scienze publicada em Leiden em 1638.
Galileu era cristão fervoroso, mas tinha um temperamento conflituoso e viveu numa época atribulada na qual a Igreja Católica endurecia a sua vigilância sobre a doutrina para fazer frente às derrotas que sofria pela Reforma Protestante. O Papa sentiu que a aceitação do modelo heliocêntrico como ferramenta matemática tinha sido ultrapassada e convocou Galileu a Roma para ser julgado, apesar de este se encontrar bastante doente. Após um julgamento longo e atribulado foi condenado a abjurar publicamente as suas ideias e à prisão por tempo indefinido. Os livros de Galileu foram incluídos no Index, censurados e proibidos, mas foram publicados nos Países Baixos, onde o protestantismo tinha já substituído o catolicismo, o que havia tornado a região livre da censura do Santo Ofício. Galileu havia escolhido precisamente a Holanda para executar uma experiência com o telescópio que anteriormente construíra. Reza a lenda que, ao sair do tribunal após sua condenação, disse uma frase célebre: "Eppur si muove!", ou seja, "contudo, ela se move", referindo-se à Terra. Galileu consegue comutar a pena de prisão a confinamento, primeiro no palácio do embaixador do Grão-duque da Toscana em Roma, depois na casa do arcebispo Piccolomini em Siena e mais tarde na sua própria casa de campo em Arcetri.
Em 1638, quando já estava completamente cego, publicou
Discorsi e Dimostrazioni Matematiche Intorno a Due Nuove Scienze em Leiden, na Holanda, a sua obra mais importante. Nela discute as leis do movimento e a estrutura da matéria.
Inicialmente, Galileu e a sua obra foram recebidos e aclamados por clérigos proeminentes. No final de 1610, o padre Cristóvão Clavius escrevia a Galileu, informando-o que os seus colegas astrónomos jesuítas confirmaram as descobertas que ele tinha feito através do telescópio. Quando, no ano seguinte, foi a Roma, Galileu foi recebido com enorme entusiasmo, quer por figuras religiosas, quer por figuras seculares, tendo escrito a uma amigo: "Fui recebido com favor por muitos cardeais, prelados e ilustres príncipes desta cidade".
A Igreja não tinha qualquer objecção ao uso do sistema copernicano (heliocentrico), Galileu, apesar de estar convencido de que o sistema não era uma simples hipotese não tinha provas que permitissem sustentar minimamente que fosse, esta convicção.
Ainda assim, em 1616, depois de Galileu ter pública e persistentemente ensinado o sistema copernicano, as autoridades da Igreja ordenaram-lhe que deixasse de apresentar a teoria copernicana como se fosse uma teoria verdadeira, embora continuasse a ter a liberdade de apresentá-la como uma hipótese. Galileu aceitou esta indicação, e prosseguiu com a investigação. Em 1632, Galileu publica o Diálogo dos grandes sistemas, mas ignorando a indicação que lhe fora dada. Em 1633 foi declarado suspeito de heresia.
Há muitos equívocos quanto à morte de Galileu, pois não foi ele o cientista queimado vivo por sua concepção astronómica, mas Giordano Bruno (1548-1600) que havia sido condenado à morte por heresia nos tribunais da Inquisição ao defender ideias semelhantes. Galileo Galilei, na verdade, morre em Arcetri rodeado pela sua filha Maria Celeste e os seus discípulos. Foi enterrado na Basílica de Santa Cruz em Florença, onde também estão Machiavelli e Michelangelo.
No decorrer dos séculos, a Igreja Católica reviu as suas posições no confronto com Galileu. Em 1846, são removidas todas as obras que apoiam o sistema copernicano da versão revista do Index Librorum Prohibitorum. Em mais de três séculos passados da sua condenação, é iniciada a revisão do seu processo que decide pela sua absolvição em 1983. Contudo a revisão da condenação não tem nada a ver com o sistema heliocêntrico porque esse nunca foi objeto dos processos.




Período Filosófico e Período Histórico Social


A vida na Idade Média

A Idade Média situa-se entre o século V, marcado pelo fim do classicismo greco-romano e o século XV, ou seja, o início da Renascença. Cobre por isso um período muito vasto da história, abrangendo praticamente 10 séculos.
Por vezes classificada como a idade das trevas, tempo sombrio e de ignorância, a Idade Média foi no entanto palco de decisivos acontecimentos históricos e de magníficas produções culturais e artísticas. Muitas catedrais, castelos, igrejas e obras de arte construídas então chegaram até nós, como testemunho e eco deste período decisivo na História do Homem. As cidades, as universidades, a moeda e o comércio da Europa, ainda hoje existentes, têm as suas raízes neste período que alguns classificaram erradamente como uma longa noite de dez séculos. Talvez por a Idade Média ser uma época remota e misteriosa, mergulhada nas brumas da história, povoada de castelos e guerreiros, reis e bispos, cavaleiros e damas. Então, a paz era rara e a Europa vivia entre guerras e batalhas sangrentas. Nelas, os cavaleiros envergavam armaduras reluzentes e empunhavam espadas mortíferas. Mas não foi apenas por esse motivo que a Idade Média é considerada um tempo de violência e insegurança. A Peste Negra, interpretada como um sinal da ira de Deus contra o homem, dizimou a Europa, matando um terço da população. Um cavaleiro tinha assim mais probabilidades de morrer vítima da doença, o pior dos inimigos, do que vítima de um adversário. Embora os costumes romanos se tenham mantido durante bastante tempo, foi na Idade Média que se desenvolveu uma nova forma de governar a sociedade, chamada feudalismo. Este sistema, juntamente com o crescente poder da Igreja, foram os que mais influenciaram a vida na Idade Média.

A sociedade estava organizada num sistema feudal, que se baseava na concessão de terras em troca de serviços. No campo, à volta dos castelos, vivia a esmagadora maioria da população. Eram os camponeses, que trabalhavam a terra por conta do senhor lhe pagavam uma renda. Em troca, podiam refugiar-se no pátio do castelo em momentos de perigo. Por tudo isto, o sistema feudal traduz a importância da terra, maior bem que se podia possuir e só ao alcance de alguns. Os cavaleiros juravam servir com lealdade os seus senhores e as terras, defender a honra das damas e colocar a sua vida ao serviço de Deus.
A Igreja Católica estava no centro do mundo medieval. Era uma instituição poderosa e governava a vida das pessoas, desde os aspectos mais práticos aos espirituais.
Em termos arquitetônicos, há dois tipos de construções que caracterizam esta época da história, rivalizando então em importância: os castelos e as catedrais. Os castelos, símbolos de prestígio e objetos de conquistas militares, traduziam a importância do poder terreno. Lugar por excelência do poder económico e político, dominavam a sociedade camponesa. As inúmeras catedrais com torres que se elevavam na direção dos céus simbolizam a importância da Igreja e o peso do poder espiritual.
A arqueologia revela que durante a Idade Média a chave era um elemento muito utilizado e construído em grande escala. Facilmente concluímos que o homem medieval apreciava a segurança e gostava de guardar, fechar, proteger o que tinha de mais precioso.

O espaço medieval brinca precisamente com a dialética entre a estabilidade e a mobilidade, entre a segurança e o perigo. A cidade, lugar de civilização, opunha-se ao campo, lugar de rusticidade. Construídas entre muralhas, as cidades ofereciam estabilidade, mas os nobres, cavaleiros e mercadores encontravam-se em constante movimento. E as próprias cidades, local onde se concentrava o comércio e a riqueza, eram igualmente o espaço cobiçado por ladrões, pelo que ao escurecer, a segurança desaparecia. Apesar das cidades manifestarem tendência a desenvolver-se junto de portos, o mar ainda era um mundo desconhecido, que ficaria para outras páginas da história da humanidade.
Os tempos livres eram ocupados com atividades físicas e violentas como os torneios de cavalaria e a caça ao veado. Felizmente, também havia tempo para realizar concorridas feiras e mercados, com malabaristas e exibições de animais, nomeadamente ursos. É também nesta época que surgem os bobos da corte e os trovadores, músicos que cantavam o amor proibido por uma dama. Juntos, animavam os longos e frios serões no castelo.
Em termos culturais, o imaginário medieval é muito rico e repleto de demónios, animais e outras figuras temerosas. A criatividade do homem medieval expressa-se por uma admirável produção de formas estéticas, verdadeiros testemunhos da sua vida quotidiana. Numerosas construções, livros, objetos e sobretudo obras de arte como pinturas, esculturas, mosaicos, vitrais e tapeçarias chegaram até nós, pelo que é bastante fácil reconstruir com fidelidade a história desta época aparentemente misteriosa.
Hoje, muitos séculos depois, propomos uma visita guiada ao modo de vida de então. Porque afinal, também foi este passado que fez de nós aquilo que somos hoje.


A Sociedade Medieval

“Sociedade feudal” é o termo usado para descrever a sociedade medieval. Tratava-se de um sistema ou organização baseado na atribuição de um pedaço de terra em troca de serviços. Na sociedade feudal, um dos conceitos base era o de lealdade.
O rei fazia doações de terra aos nobres do reino. Estes prometiam, em troca, defender o rei com soldados. Por sua vez, os nobres dividiam a sua terra com os cavaleiros. Na base desta organização social encontravam-se os camponeses, que trabalhavam a terra mediante promessa de proteção.
O padre, o cavaleiro e o camponês são três figuras que exprimem o essencial da Idade Média em termos de organização social. Estas ordens equivaliam a três atividades distintas: os que rezam, os que combatem e os que trabalham.
Os eclesiásticos consagravam a sua vida às tarefas espirituais e intelectuais. Podiam ser seculares, ou seja, viver na vida comum, como párocos ou ser regulares. Estes últimos eram monges e obedeciam a regras. Alguns viviam em minúsculos mosteiros, outros conheciam o luxo das catedrais e dos grandes centros de peregrinação. Todos se consagravam a missões sociais e eram sacerdotes, médicos, professores e conselheiros. Nenhum monge tinha bens próprios. As terras e casas onde viviam e a roupa e objetos que utilizavam só à Igreja pertenciam.
Os que combatiam eram os homens de guerra e tinham por missão garantir a paz. Os cavaleiros eram uma elite guerreira e tinham um importante estatuto na sociedade. A cavalaria representava o difícil equilíbrio entre a elegância e a brutalidade. Era o ideal de um mundo que vivia constantemente em guerra. A maior parte das pessoas eram camponeses pobres. Cultivavam a terra e trabalhavam para um pequeno número de grandes proprietários de terras, que eram também chefes militares, geralmente cavaleiros. Em contrapartida, estes davam-lhes proteção contra os ataques inimigos.


A vida na cidade

A partir do século XI começou a registar-se o grande período da urbanização. Em torno do senhor eclesiástico ou laico foram criados pequenos núcleos urbanos e desenvolveram-se novas formas de sociabilidade e uma vida comunitária com regras próprias.
A cidade medieval tornou-se um espaço fervilhante, concentrando num pequeno espaço igrejas, escolas, ruas e tabernas e algumas dezenas de milhares de habitantes, Lugar de produções artesanais e de trocas comerciais, a cidade medieval começou a desenvolver as funções essenciais que ainda hoje caracterizam os grandes centros urbanos: o poder, o comércio, a cultura e a informação.
Numa época em que a maioria das pessoas viviam presas por laços de dependência aos seus senhores, as cidades surgiam como uma miragem de liberdade e a promessa de uma vida melhor.
Dominadas pelas suas catedrais e por uma intensa actividade social e comercial, as cidades opunham-se ao campo. Na cidade, acabava por haver falta de espaço, porque havia demasiadas pessoas e demasiadas casas. Havia lixo nas ruas e as doenças espalhavam-se com muita facilidade.
A muralha isolava o espaço urbano, assegurava a sua defesa e permitia o controlo da circulação com o exterior. Estes muros de pedra tinham a função de defender a cidade e também de controlar a entrada de mercadores e visitantes, que tinham de pagar uma portagem. Os portões da cidade abriam-se ao amanhecer e encerravam quando o sol se despedia. Ao pôr do sol, os sinos da cidade faziam-se ouvir. Era tempo de recolher a casa, já que as ruas não tinham luz e eram um local perigoso depois do entardecer.


A vida no campo

Cerca de 90% da população vivia e trabalhava no campo, ocupando-se da agricultura. Os camponeses viviam em casa rudimentares e dividiam-se em dois grandes grupos: os que eram livres e os dependentes. Estes últimos eram designados de servos. Segundo a lei, os camponeses medievais, juntamente com os campos, os animais e até as roupas, pertenciam ao senhor feudal. Nas terras pertencentes ao senhor cultivavam cereais como a cevada, o centeio ou o trigo. No sistema de afolhamento trienal, apenas dois campos eram semeados com cereais, enquanto o terceiro era deixado em pousio, para recuperar o seu vigor.
Como ainda não havia máquinas agrícolas, todo o trabalho de lavoura era feito à mão, com a ajuda de foices, forquilhas, podadeiras e carroças para o transporte. A agricultura medieval exigia assim muita mão-de-obra para todos os trabalhos a executar: lavrar, ceifar, malhar, vindimar, tosquiar. Os camponeses criavam ovelhas, vacas e porcos, a partir dos quais produziam lã e obtinham leite e carne e trabalhavam igualmente na vindima.
Nas pequenas habitações construídas em torna do castelo, as condições de vida não eram as melhores. Num pequeno compartimento, coabitavam o camponês, a sua família, os animais e os utensílios. De sol a sol, os trabalhadores executavam as árduas tarefas agrícolas e faziam a recolha de provisões. Nos celeiros, eram armazenadas as colheitas, a lenha, os ovos e a farinha. Os camponeses deviam entregar à Igreja um dízimo, ou seja, um décimo daquilo que produziam. Muitos tinham ainda de fornecer alimentos ao senhor feudal. Tratava-se de uma espécie de renda em que o pagamento era em géneros e não em dinheiro.


O castelo medieval

Os castelos são um dos maiores legados da Idade Média e então havia milhares de castelos espalhados por toda a Europa. Começaram por ser projetos arquitetônicos simples, mas de importância decisiva. Ao longo dos séculos e fruto da necessidade, foram-se aperfeiçoando as suas estruturas de forma a tornar a sua conquista cada vez mais difícil.
Vistos de fora, os castelos eram sólidas construções e era difícil imaginar o que se passava no seu interior. Geralmente, ficavam no topo de uma colina. Do alto, dominavam a paisagem e vigiavam a região. Eram quase sempre constituídos por torres maciças e paredes altas, sem janelas. Dentro da muralha principal, feita de pedra, existia uma outra, cuja entrada estava protegida por uma ponte levadiça. Acima dos portões existiam buracos através dos quais se deixavam cair pedras ou óleo a ferver. Do alto da torre de menagem, uma sentinela observava tudo a quilómetros de distância. Os merlões serviam de proteção aos arqueiros que disparavam através das ameias, os intervalos entre os merlões. As únicas aberturas nas paredes eram as seteiras, um espaço demasiado exíguo para alguém entrar, mas suficiente para os arqueiros desferirem setas. Os arqueiros conseguiam atirar com precisão a uma longa distância e eram vitais na defesa do castelo. As escadas em espiral de cada torre eram construídas no sentido dos ponteiros do relógio. Deste modo, o defensor que as descesse tinha mais espaço para manusear a arma. Quando o inimigo se aproximava, sob a forma de vultos escuros entre o nevoeiro, a sentinela tocava a sua corneta. Então, era altura dos guardas içarem a ponte levadiça.


As Guerras e os torneios medievais

Durante a época medieval, a guerra podia começar a qualquer momento. Por isso, era preciso estar bem preparado. Enquanto os reis e os nobres construíam castelos, os cavaleiros treinavam-se na arte do combate desde muito jovens. Os cavaleiros, soldados de classe elevada, tinham uma grande variedade de armas à sua disposição, como espadas, machados, maças ou lanças. Estas últimas chegavam a medir quatro metros e meio. A armadura era fundamental para a proteção e defesa do cavaleiro. Pesava mais de dez quilos, pelo que podia levar uma hora a vestir. Dela fazia parte uma cota de malha com inúmeros aros de metal unidos uns aos outros. As espadas mortíferas e as armaduras reluzentes destacavam-se no corpo do cavaleiro com o rosto escondido por detrás de um grande elmo. Quando um cavaleiro usava uma armadura completa, ficava irreconhecível. Por isso, cada um decorava o seu escudo ou armadura com o seu símbolo ou brasão.

Naquele tempo, os torneios de cavalaria eram uma constante e tinham uma dupla função. Para além do aspecto lúdico e de entretenimento, eram um óptimo pretexto para os cavaleiros se exercitarem para as sangrentas batalhas. Os torneios tornaram-se muito populares e os seus vencedores ganhavam valiosos prémios em dinheiro, cavalos e armaduras. A multidão acotovelava-se nas tribunas, para ver os combates entre os cavaleiros. Alguns eram verdadeiros heróis e combatiam de castelo em castelo. Inicialmente, os torneios eram sangrentos e perigosos. Progressivamente, a cavalaria foi-se tornando um código de honra do qual faziam parte o respeito pela Igreja, a piedade pelos pobres e a bravura. A espada do cavaleiro era uma entidade mítica e não devia ser usada para fazer o mal.


A vida espiritual

As Igrejas e catedrais dominavam a paisagem medieval e tinham como únicos rivais os imponentes castelos. O seu número testemunha o intenso fervor religioso que se viveu então.
Na Idade Média, a religião cristã fazia parte da vida quotidiana. regulando a vida prática e espiritual das populações. O medo do inferno e do apocalipse dominavam o homem e inspiravam os artistas. As pessoas procuravam na igreja a explicação para os mais diversos acontecimentos, como as epidemias, a fome e até as trovoadas. Através da oração e da devoção, esperavam afastar essas adversidades.
Naquela época, numerosos cristãos escolhiam colocar-se ao serviço de Deus. Tornavam-se monges e viviam afastados do mundo, nos mosteiros. Rezavam a horas certas, seguiam regras estritas e trabalhavam diariamente. Ao contrário da maior parte dos seus contemporâneos, os monges sabiam ler e escrever. Simultaneamente biblioteca, colégio, repositório de tesouros e oficina, o mosteiro representava a verdadeira cultura cristã. Como membros de uma comunidade auto-suficiente, os monges tinham inúmeras tarefas diárias.
Instituição poderosa, com leis próprias, cobradora de impostos e dona de territórios, a Igreja enriqueceu consideravelmente ao longo da Idade Média. A maior parte das aldeias tinha uma igreja e os grandes centros urbanos tinham magníficas catedrais e grandes mosteiros. As catedrais, repletas de estátuas, vitrais, esculturas e frescos pintados nas paredes, relatavam histórias e episódios bíblicos. Os vitrais eram uma espécie de banda desenhada, que ensinava às pessoas que não sabiam ler as histórias da Bíblia.


A casa medieval

As casas medievais eram muito diferentes das nossas. Nas cidades medievais, as casas eram construídas em madeira ou pedra. Tinham dois ou mais andares com sacada, projetando-se sobre a rua. Este facto explica em parte a fisionomia das cidades medievais, retratadas como sombrias e pouco arejadas, apesar das janelas não terem vidros.
As casas medievais tinham as lareiras no meio da sala, longe das paredes de madeira e para evitar os incêndios. Era em seu redor que as famílias se sentavam, para se aquecerem nas noites frias e escuras. Para iluminarem
a noite, utilizavam juncos mergulhados em gordura, que ardiam como velas. Era frequente haver nas traseiras das casas pátios e jardins, onde se encontravam animais domésticos como a galinha e o porco. Não havia casas de banho, apenas fossas que necessitavam de uma limpeza periódica.

A vida dentro da casa era em comunidade e havia falta de intimidade, já que todos os seus habitantes comiam, dormiam e passavam o tempo livre na mesma divisão.
Mesmo entre os mais ricos e poderosos, usavam-se poucas peças de mobiliário. Do mobiliário faziam parte uma mesa, assentos sem costas e um móvel essencial pela sua enorme versatilidade: o baú ou arca. Dotada de uma utilização polivalente, o baú servia tanto de assento como de armário onde se guardavam as roupas ou as loiças. A arca era também muitas vezes transformada em mesa, para servir o jantar. As pessoas abastadas dormiam em camas de madeira resistente, com um dossel por cima e cortinas laterais. A maior parte dos colchões eram de palha. Na maioria das casa, as pessoas sentavam-se em bancos baixos. Apenas o senhor dispunha de uma cadeira com espaldar e braços.


A cozinha medieval

A cozinha era muitas vezes construída no pátio em edifício separado, como precaução contra os incêndios. O equipamento de cozinha dessa época incluía o almofariz, panelas e frigideiras de cabo comprido. A maior parte dos pratos eram confeccionados em grandes panelas de ferro. O caldeirão de 3 pernas podia ser colocado sobre o fogo ou suspenso por um gancho.
Os cozinheiros tinham de ter talento para disfarçar o sabor de alguns alimentos. Por isso, a cozinha medieval usava e abusava de ervas aromáticas como os coentros, a salsa e a hortelã para condimentar os pratos. Cultivava-se o tomilho, o alho, a mostarda e o açafrão e utilizava-se também o sal e ainda pimenta vinda do Oriente.
A carne, guardada em despensas, nem sempre se mantinha fresca. O peixe cozinhado com salsa e funcho era um prato popular. A Igreja ordenava que às quartas, sextas e sábados não se comesse carne. O arenque salgado ou as enguias, além de uma grande variedade de peixes do mar e rio, eram consumidos com frequência. Legumes como as cebolas, couves e alho-francês eram utilizados para engrossar as sopas e estufados, mas não eram especialmente apreciados, pelo menos entre as classes superiores. O regime alimentar variava de acordo com as posses de cada um. Enquanto os nobres abastados e os mercadores podiam ter uma vasta gama de alimentos à mesa, o regime alimentar das pessoas comuns era bem mais restrito. Comiam pão de centeio ou trigo, alguns legumes e os porcos da sua criação, ou ainda peixe salgado e lácteos compostos a partir de leite de vaca, cabra ou ovelha. Nas refeições comuns, o prato diário era um espesso caldo de legumes e muita carne.


À mesa na Idade Média

Rabelais dizia que a gastronomia é uma arte complicada, da qual o estômago é o pai. E é também um dos melhores reflexos dos hábitos e costumes de uma época. Sentemo-nos pois à mesa medieval. As duas refeições principais eram o jantar e a ceia. No século XIV jantava-se entre as 10 e as 11 da manhã e a ceia era por volta das 6 ou 7 da tarde. À mesa encontrava-se todo o tipo de carnes, base da alimentação, como a carne de vaca e porco, cabrito, carneiro, lebre e faisão. A par destas, havia caça e aves exclusivas da época, como o urso, o gamo, a corça, a garça, e o pavão. A forma mais frequente de cozinhar a carne era assá-la no espeto, mas também se servia cozida, estufada ou em caldeirada. Um banquete medieval podia incluir ainda iguarias como pavão, baleia ou cisne.
O peixe fresco era mais raro e servia-se por isso mesmo em pequenas quantidades ou frito. Já o peixe seco, salgado e defumado era utilizado com maior abundância. Em termos de doçaria, o leite estava omnipresente nas confecções da época e era ingrediente imprescindível no manjar branco, nos pastéis de leite e nas tigeladas. Os vinhos servidos eram brancos, tintos e palhetes. Como azedava com facilidade, o vinho era frequentemente servido com mel ou gengibre. E porque os olhos também comem, a decoração dos pratos, tal como a decoração dos recintos, era extremamente cuidada. As longas mesas eram cobertas com magníficos tecidos e iluminadas por tochas empunhadas por criados. Então, as iguarias começavam a desfilar, devidamente ornamentadas. Os pratos tinham o nome de escudelas e serviam para dois convivas, sentados lado a lado. Apesar de já existirem colheres e facas, as mãos eram o principal talher utilizado. Cada um usava as sua própria faca, uma colher e os dedos para comer educadamente à mesa.


O comércio medieval

Entre os séculos XI e XIII, assistiu-se a um enorme crescimento das cidades, numa Europa cada vez mais dedicada ao comércio. O aumento das trocas sociais foi determinante para o aumento do número de cidades. onde havia cidades, concentravam-se os mercadores. Os mercadores da Idade Média eram vendedores ambulantes que andavam de cidade em cidade e vendiam tanto produtos artesanais como mercadorias exóticas importadas de terras longínquas.
O mercado animava regularmente as praças da cidade e era o local onde se faziam os negócios. As trocas comerciais intensificaram-se e as lojas e bancas de então são um testemunho da arquitetura urbana. O comércio medieval marca o início da economia monetária. Então, desenvolveu-se o gosto pelo negócio e pelo dinheiro.
O comércio começava ao amanhecer e a praça do mercado, com a sua catedral ou igreja, era o polo da cidade para o qual convergiam as principais ruas. Os comerciantes penduravam no exterior da loja um objeto, como um sapato ou um peixe, para indicarem qual a sua atividade comercial. Muitas vezes, as ruas recebiam o nome de uma atividade comercial. Assim, chamavam-se, por exemplo, Rua do Sapateiro, Rua do Padeiro, Rua do Barbeiro.
Numerosos artesãos abriam ateliers na cidade e fabricavam roupa, tapeçarias e louça. Na cidade medieval, as lojas amontoavam-se e era frequente ocuparem pequenos espaços.
Um dos grandes acontecimentos era a feira anual, que se prolongava durante vários dias e tinha lugar no exterior das muralhas. As transações comerciais realizavam-se num ambiente de descontração e eram animadas por acrobatas e músicos. Os comerciantes exibiam as suas mercadorias, umas populares, outras vindas de terras longínquas como a Rússia ou a China.

Como se passava o tempo

O tempo tem destas coisas. Nem sempre parece passar da mesma maneira, o que lança logo uma questão: afinal, a passagem do tempo é objetiva ou subjetiva?
Na Idade Média ainda não havia relógios e o tempo corria devagar. As noites eram longas e escuras, mas se as pessoas estivessem entretidas, pareciam subitamente muito mais curtas e iluminadas. Então, muitos passatempos tinham o duplo fim de servirem como entretenimento e como forma de fornecer alimentos ou desenvolver a perícia militar. Muitos dos passatempos tinham deste modo um lado prático, decorrente das necessidades de sobrevivência e defesa.
Uma das grandes ocupações era a caça, um passatempo com várias funções e fins práticos. O senhor das terras caçava para se distrair, para eliminar os animais que destruíam as suas colheitas e para se alimentar. Servia-se de falcões para descobrir e matar a caça pequena e tinha também a sua própria matilha de cães. Os caçadores e as suas matilhas de cães caçavam veados e javalis selvagens nos seus coutos privados. O arco era outro instrumento de caça e servia para apunhalar lebres, perdizes e faisões. A caça era assim o desporto favorito do fidalgo e uma forma de acrescentar comida suplementar à sua despensa.
A falcoaria era igualmente um desporto medieval muito popular. Os senhores possuíam os seus próprios falcões
e gastavam avultadas quantias de dinheiro na compra e treino destas aves. Os falcões eram treinados pelos falcoeiros para caçarem coelhos e pássaros como os pombos. Os nobres tinham por hábito saírem para a caça a cavalo e com um falcão no punho.

Os senhores abastados organizavam festas sumptuosas nas salas do castelo. Os pagens serviam a comida e as bebidas
e os pratos sucediam-se numa enorme variedade de sabores. Em noites de festa, havia ementas especiais no castelo. Os festejos e as refeições duravam horas e eram animados pelos artistas de então: momos, acrobatas, prestidigitadores e os imprescindíveis bobos da corte. O bobo da corte tinha por principal tarefa divertir o rei e os seus convidados. Por vezes, havia mesmo macacos ou ursos que também executavam números de entretenimento.
Senhores e damas da corte passavam horas a jogar xadrez, gamão e dados. Jogar às cartas também se tornou muito popular a partir do século XIII.
Nas cortes dos senhores feudais, os trovadores cantavam o amor dos cavaleiros pelas suas damas e narravam feitos heróicos, destacando a bravura dos cavaleiros. Os trovadores tocavam música e cantavam os dois grandes temas que eram o amor e a guerra. Os poemas que escreviam eram cantados em festas pelos jograis ou menestréis, que se faziam acompanhar por instrumentos musicais como a viola em arco, a harpa ou o alaúde. Os trovadores compunham canções de cruzada, pastorais, trovas populares e inventaram o amor cortês do cavaleiro dedicado à sua dama. Tratava-se de uma espécie de paixão secreta com regras rigorosas. A identidade da pessoa amada devia ser mantida em segredo e regra geral tratava-se de uma mulher casada. Daí que o amor fosse um amor proibido. A cavalaria tornou-se o outro ideal de que as canções dos jograis nos deixaram eco.

O som envolvente do alaúde, trazido do Médio Oriente, servia de pano de fundo ao canto dos trovadores. Os músicos mais hábeis conseguiam dedilhar complicadas melodias com os cinco pares de cordas dos instrumentos.
As festas e os jogos fazem parte da identidade urbana, na sua afirmação face à cultura campesina. Nos compridos serões do castelo, todo o visitante que trouxesse na sua bagagem narrativas de viagens ou aventuras para contar, era bem vindo. Os trovadores, músicos ambulantes, levavam as novidades de um lugar para o outro.
Na Idade Média, muita gente ouvia música na igreja. Sagrada ou profana, a dança e a música animavam a sociedade medieval.
Também as festas e as feiras eram um motivo de distração e por isso mesmo sempre aguardadas com expectativa. Tanto os camponeses como os citadinos contavam impacientemente os dias até estas se realizarem. As grandes feiras tinham habitualmente lugar no dia das festas dos santos. Os mercadores montavam as suas barracas com as mercadorias trazidas de lugares distantes e vendiam especiarias, tecidos e vidros. Havia uma grande variedade de comida ao dispor de todos e consumiam-se grandes quantidades de cerveja e vinho. Os acrobatas, malabaristas e músicos animavam as feiras com as suas exibições.
Alguns malabaristas conseguiam manipular sete bolas ao mesmo tempo, para deleite dos espectadores.
Caça, falcoaria, jogos de xadrez, música e poesia trovadoresca, banquetes e serões, na Idade Média foram inventadas muitas formas de passar o tempo, no tempo em que o tempo ainda não tinha ponteiros de horas, minutos e segundos.


O Castelo de Castro Marim

As origens da vila de Castro Marim perdem-se no tempo. Ainda hoje não se sabe se na origem de “Marim” está uma palavra relacionada com “mar” ou se este termo não passa de uma variante do árabe, significando “torre”. Ambas as versões justificam o brasão de Castro Marim, uma torre sobre as águas entre mouros e cristãos, correspondendo a torre ao Castelo Velho.
Classificado como monumento nacional desde 1910 e outrora principal praça de guerra do Algarve, o Castelo de Castro Marim está implantado num penhasco. Do alto do penhasco observa a vila e sente-se dono da paisagem, como no tempo em que Fenícios, Cartagineses, Romanos e Árabes ocupavam a região. Reza a história que em 1242 Castro Marim foi conquistada aos mouros por D. Paio Peres, fronteiro-mor do reino, tendo recebido foral em 1277.O castelo faz parte de uma edificação notável de fortificação da fronteira. Em 1319, a vila tornou-se o quartel-general dos Cavaleiros de Cristo e o Infante D. Henrique, nomeado governador da Ordem, residiu no Castelo. Até 1755, a vila viveu à sombra das suas muralhas, que depois do terramoto foram restauradas no reinado de D. João IV.
Uma visita ao Castelo de Castro Marim é sempre uma revelação para a vista, quer pela estrutura e imponência do castelo, quer pela excelente vista que este oferece sobre o rio Guadiana e a zona do Sapal. Ex-libris da vila e testemunha fiel e visível de tantos séculos de história, as muralhas do Castelo guardam muitos segredos e factos que a história silenciou dentro das muralhas do Castelo. Além de guardarem o eco das batalhas sangrentas, que as paredes registaram nos primórdios da história, guardam o que chegou até nós do Castelo velho. Provavelmente de construção muçulmana, ele assenta sobre uma planta irregular, de configuração quadrada com quatro torreões e duas portas.
Situado no interior do Castelo existe um pequeno núcleo museológico que testemunha aspectos arqueológicos e históricos da região.